Do Cacau à Fé: A Páscoa que move o Brasil
O verdadeiro significado da Páscoa, para mim, é a renovação daquilo em que se acredita.
Pessoalmente, essa renovação se traduz na fé — mas entendo que, para cada pessoa, isso pode ter um sentido diferente. E respeito profundamente essa diversidade de interpretações.
Trabalho com o fomento ao consumo consciente de derivados de cacau e chocolates brasileiros. Por isso, muita gente imagina que, no Domingo de Páscoa, minha casa esteja tomada por ovos, barras e bombons. Mas a verdade é que não. Sempre defendi que o chocolate merece ser celebrado e consumido o ano inteiro — com consciência e apreciação. Hoje, o protagonista, para mim, é outro.
Este texto não é sobre fé religiosa — é sobre o que senti ao ver, ontem, minha região cheia de turistas. Para quem não sabe, moro na Serra Gaúcha, e em 2024, especialmente a partir de maio, vivemos um cenário muito difícil economicamente por conta de uma crise climática extrema, que foi a enchente. Ver Gramado e Canela cheias novamente nesta Páscoa me emocionou.
Acredito em milagres diários. E acredito que fé também se manifesta quando acreditamos no intangível — e no tangível: na saúde, na paz, no amor, na família… e também na prosperidade dos negócios. Por isso, ver a cidade movimentada neste feriado me encheu de esperança: a Páscoa, aqui, está sendo uma verdadeira renovação de energia para toda a região. Uma Páscoa que gera renda, acolhe, aquece a economia e cria oportunidades.
E quando falamos de chocolate — seja ele simples, sofisticado, artesanal, bean to bar ou uma gostosura com recheio e confeitos — todos têm algo em comum: vêm do cacau. Esse fruto sagrado, valioso, cultivado com muita dedicação e cuidado por mais de 94 mil propriedades brasileiras, é a base de tudo. É aí que vejo a Páscoa acontecer de verdade: no trabalho de milhares de famílias que sustentam essa cadeia produtiva linda, rica e complexa. Meu reconhecimento a todos vocês, produtores de cacau no Brasil.
Independentemente de o chocolate ser intenso ou ao leite, ter pistache ou cupuaçu, ser puro ou não, em formato de ovos, barras ou bombons — por trás de cada produto há empreendedores, trabalhadores, fornecedores e profissionais que fazem essa engrenagem girar. Minha admiração e respeito a todos que atuam com seriedade e acreditam na Páscoa como um bom momento para seus negócios — e que, ao longo do ano, seguem atuando com igual responsabilidade.
Quero também abrir um parêntese sobre um tema que frequentemente surge: o bom e o ruim no chocolate. Polêmico? Sim. Mas necessário.
Recentemente, participei de entrevistas sobre Qualidade do Chocolate no Brasil — e gosto de lembrar que, na raiz do seu conceito, Qualidade está ligada ao atendimento de requisitos legais, normas técnicas e também às expectativas do consumidor. (por gentileza leiam mais sobre autores confiáveis que tratam de Qualidade).
Mas... de qual consumidor estamos falando?
O Brasil tem uma imensa variedade de perfis de consumo:
-
quem busca preço,
-
quem busca saudabilidade,
-
quem escolhe marcas locais,
-
quem quer presentear com valor agregado,
-
quem busca o sabor da infância,
-
quem deseja status,
-
quem procura sustentabilidade,
-
quem compra por impulso e prazer sensorial,
que dão preferência à experiência de compra,
que dão muita atenção à embalagem
que precisam de conveniência na logística,
-
entre tantos outros.
Por isso, dizer que um chocolate é "bom" ou "ruim" é algo extremamente subjetivo. Tudo depende do olhar e das escolhas de quem consome — e também da realidade financeira que cada pessoa vive.
E é aí que entra o papel de quem educa para o consumo, como eu mesma: mostrar as diferenças entre tipos de cacau e tipos de chocolates, entre formulações, entre um chocolate comum e um tree to bar e bean to bar, entre ingredientes naturais ou artificiais — e o impacto de tudo isso sobre o corpo, o planeta e a sociedade. Sabendo disto tudo, quem escolhe mesmo o seu chocolate, é o cliente.
É esse o meu lugar: apresentar o cenário do cacau e do chocolate brasileiro, apontar caminhos, dar voz às origens e mostrar, com clareza, o que está por trás de cada produto. Logo, quando comunico que o Brasil figurou com 10% das marcas globais premiadas na Academy of Chocolate em Londres em 2024, afirmo o quanto somos uma terra que se mostra através de Chocolate bean to bar bem feito.
Assim, na renovação da minha fé — que vai além das questões espirituais — também renovo minha crença no potencial do Brasil como produtor de cacau e chocolate sustentável, justo, saudável e transformador.
Um potencial que impacta positivamente nossa saúde, nosso meio ambiente, nossa economia e a vida de quem planta, processa e transforma o cacau em chocolate.
Que essa Páscoa tenha sido doce, consciente e cheia de sentido para você também.
Feliz Páscoa!
The true meaning of Easter, for me, is the renewal of what we believe in.
Personally, that renewal is rooted in faith — but I understand that for each person, it may hold a different meaning. And I deeply respect that diversity of interpretations.
I work to promote the conscious consumption of cacao derivatives and Brazilian chocolates. Because of that, many people assume that my home is filled with chocolate eggs, bars, and bonbons on Easter Sunday. But the truth is, it’s not. I’ve always believed that chocolate deserves to be celebrated and enjoyed all year round — with mindfulness and appreciation. Today, something else takes center stage for me.
This message is not about religious faith — it’s about what I felt when I saw my region full of tourists yesterday. For those who don’t know, I live in Serra Gaúcha (southern Brazil), and in 2024, especially starting in May, we faced a very difficult economic situation due to an extreme climate crisis — a massive flood. Seeing Gramado and Canela bustling again this Easter brought me to tears.
I believe in daily miracles. And I believe that faith also manifests when we believe in the intangible — and in the tangible: in health, peace, love, family… and also in the prosperity of businesses. That’s why seeing the city lively during this holiday filled me with hope: Easter, here, is truly a renewal of energy for the entire region. An Easter that generates income, offers warmth, boosts the economy, and creates opportunities.
And when we talk about chocolate — whether it’s simple, refined, artisanal, bean to bar, or a treat filled with ganache and sprinkles — they all have something in common: they come from cacao. This sacred, valuable fruit, cultivated with care and dedication by more than 94,000 producers across Brazil, is the foundation of everything. That’s where I see the true spirit of Easter: in the work of thousands of families who sustain this beautiful, rich, and complex supply chain. My heartfelt respect to all of you, cacao producers in Brazil.
Regardless of whether the chocolate is dark or milk, with pistachio or cupuaçu, pure or not, in the form of eggs, bars, or bonbons — behind each product are entrepreneurs, workers, suppliers, and professionals who keep the wheels turning. My admiration and respect to all those who work with integrity and see Easter as an important opportunity for their businesses — and who continue throughout the year with the same sense of responsibility.
I also want to take a moment to address a topic that often arises: what is “good” and “bad” chocolate? A bit controversial? Yes. But necessary.
Recently, I was invited to speak about Chocolate Quality in Brazil, and I always like to remind people that, at its root, quality is defined by compliance with legal standards, technical requirements, and also by consumer expectations (I encourage you to read more from trusted authors who write on the topic of food quality).
But… which consumer are we talking about?
Brazil has a vast range of consumer profiles:
-
those who prioritize low price,
-
those who seek healthy options,
-
those who choose local brands,
-
those who buy gifts with added value,
-
those looking for nostalgic flavors,
-
those who want status,
-
those who care about sustainability,
-
those who buy for impulse or sensory pleasure,
-
those who prioritize the shopping experience,
-
those who value packaging,
-
those who need logistical convenience,
— and many more.
That’s why saying a chocolate is “good” or “bad” is highly subjective. It all depends on the perspective and choices of the consumer — and on each person’s financial reality.
But there’s one thing we cannot make relative: legality.
Any brand that is registered with Anvisa (Brazil's health authority), meeting basic safety, hygiene, supplier approval, formulation, and labeling requirements, has a legitimate place in the market.
That’s where the role of educators like myself comes in — to show the differences between types of cacao and chocolate, between recipes, between standard and bean to bar or tree to bar chocolates, between natural or artificial ingredients — and the impact all of that has on our bodies, the planet, and society. With this knowledge, the customer is empowered to choose the chocolate that suits them best.
That’s my purpose: to present the broader picture of Brazil’s cacao and chocolate landscape, to highlight pathways, to give voice to origins, and to show clearly what’s behind each product. So when I share that Brazil represented 10% of the award-winning brands at the 2024 Academy of Chocolate in London, I’m showing just how much our land expresses itself through well-made bean to bar chocolate.
So, as I renew my faith — which goes beyond spiritual matters — I also renew my belief in Brazil’s potential to be a sustainable, just, healthy, and transformative producer of cacao and chocolate.
A potential that positively impacts our health, our environment, our economy, and the lives of those who plant, process, and transform cacao into chocolate.
May this Easter have also been sweet, mindful, and meaningful for you.
Happy Easter!
Warmly,
Juliana Recuero Ustra
April 20, 2025
📸 [Instagram: @chocolatenobrasil]
📧 [Email: chocolate@ustra.com.br]
Comentários
Postar um comentário