Conheça o Ateliê do Chocolate, uma marca bean to bar do Espírito Santo
Empresa: Ateliê do Chocolate
Apresentado por Mariah Brito da Cruz Abaurre
Origem: cidade de Pedra Azul, município de Domingos Martins, Espírito Santo
Renato e Mariah, diretores do Ateliê
A família iniciou na produção de chocolate em 1977, com a inauguração da Chocolates Vitória, porém a vida com o cacau vem desde a década de 1940, quando meu bisavô, iniciou a comercialização de cacau para a exportação. Nós somos produtores de
chocolate bean to bar, e isso representa para nós estarmos participando de um
movimento novo e muito rico, onde pela primeira vez em sua história o cacau
está sendo trabalhado no sentido da busca de sua qualidade sensorial, tanto no desenvolvimento
de variedades buscando o sabor nas amêndoas, como de ajustes nos processos
utilizados na produção do cacau nas fazendas.
Esse fato, é consequência
da identificação de qualidades nutricionais muito saudáveis no cacau, e que gerou
o desenvolvimento de chocolates com alta participação de cacau pelos chocolateiros.
Como não se faz um bom
chocolate com alta participação de cacau, sem que se tenha um cacau de boa
qualidade sensorial, a lavoura teve que se ajustar para oferecer aos
chocolateiros o que ficou definido como cacau fino.
O caminho da construção do
cacau fino (que ainda estamos no início) exigiu que os produtores de cacau
buscassem variedades de cacau com características sensoriais particulares e com
boa palatabilidade, e ajustassem os processos na fazenda, colhendo apenas o
cacau maduro, agrupando sem perfurar a cabaça, quebrando e levando o cacau para
a fermentação no mesmo dia, fermentando durante o período necessário – 6 a 7
dias, em ambiente e estrutura adequados e secando naturalmente, sem o uso de
nenhum método artificial. E o desenvolvimento de novas tecnologias, hoje já há
um número importante de produtores de cacau fino, com suas próprias bancas de
leveduras, que utilizam em suas fermentações, evento importantíssimo na
produção das amêndoas, pois é na fermentação que se desenvolvem os precursores
dos aroma que aparecerão quando as amêndoas forem torradas no processo
industrial.
A outra boa consequência
do conjunto cacau fino e chocolate bean to bar, tem sido a reaproximação dos
produtores de cacau com os chocolateiros. Por muitos anos eles viveram
afastados pela interposição de um setor industrial produtor de semiacabados de
cacau (massa de cacau, manteiga de cacau e pó de cacau), o que não permitia que
fossem buscadas e encontradas soluções e caminhos para as situações e problemas
vividos por cada um desses grupos, produtores e chocolateiros.
Bom lembrar que embora seja uma cultura milenar, o chocolate só virou sólido em 1848, antes disso era bebida. E o chocolate ao leite, foi pela primeira vez produzido em 1876. Interessante colocar que o gosto do chocolate é desenvolvido, claro, a partir de seus ingredientes, portanto é fundamental estar sempre atento à qualidade deles, mas há que se ressaltar, que parte muito importante da construção do sabor do chocolate se dá ao longo do processo de produção. Até se transformar em chocolate, aquela barra que nos vem à mente, o cacau passa por torra, quebra e retirada da casca da amêndoa de cacau, obtendo o nibs, em seguida sua moagem para se transformar no 1º produto do cacau como ingrediente do chocolate, a massa de cacau, em seguida essa massa de cacau é prensada mecanicamente, extraindo-se dois produtos, a manteiga de cacau e o pó de cacau.
A partir daí, se inicia a produção do chocolate propriamente dito, onde se misturam os ingredientes; massa de cacau + manteiga de cacau + leite em pó + açúcar, se for chocolate ao leite; massa de cacau + açúcar (podendo adicionar manteiga de cacau), se for chocolate meio amargo ou amargo; e manteiga de cacau + leite em pó + açúcar, se for chocolate branco. Seja qual for o chocolate, quanto mais delicado for o processo, melhor será o resultado. No caso dos bean to bar, eles ficam processando por um tempo bem superior ao das grandes indústrias, entre 36 e 48 h.
Nós estamos em uma região de montanhas, no entorno de um Parque, o Parque Estadual da Pedra Azul, no Espírito Santo, lugar de uma beleza cênica diferenciada. É uma região de agroturismo, e a razão dessa característica, é que ela foi colonizada por italianos, que chegaram no final do século XIX, e que desenvolveram ao longo de anos o conceito de agro indústria. São famílias diversas, que produzem queijos, cafés, biscoitos, geléias, massas, e isso foi se transformando em uma característica marcante da região, atraindo outras produções artesanais, como cerveja, mel, cogumelo, palmito, orquídeas, etc. Produtos de qualidade para serem consumidos pelos turistas. Como produzimos o nosso próprio chocolate artesanalmente, estamos nós também, inseridos nesse conceito. Além disso, no período de inverno, onde as temperaturas caem bastante, a região pedia que alguém viesse fabricar o chocolate aqui, afinal, nada como um bom chocolate quente numa tarde fria de inverno, ou saborear uma boa barra, não é?
Esse conjunto de
características, junto com o desafio de se fazer um chocolate diferenciado motivados
pelo movimento bean to bar, acabou nos fazendo decidir que aquele alguém que
estava faltando em Pedra Azul, seríamos nós, e aí criamos o nosso Ateliê do
Chocolate.
Os principais fatores para garantir a qualidade de nosso chocolate são a
seleção de bons ingredientes, um bom processo e claro, a garantia da
padronização desse processo.
São vários os segredos que podemos revelar sobre nossos chocolates. O mais importante é que temos muito cuidado com os ingredientes utilizados, pensando sempre na qualidade. Inclusive temos por princípio não usar ingredientes artificiais. Também temos um processo de produção bastante artesanal, feito de forma bem delicada. Claro, o cacau merece um destaque especial, estar, como estamos, próximo de produtores que estejam na linha de frente da busca de variedades de cacau com características de qualidade sensorial superior é fundamental. Esse caminho é muito recente, e há muita estrada ainda a percorrer, por isso é importante estar próximo de quem o está trilhando.
Simplificando, o mercado
de chocolate brasileiro tem 3 grandes grupos; a grande indústria, as indústrias
menores (uma ou poucas lojas, ou em redes
de franquia), e agora no iniciozinho da vida, os bean to bar (junto com os tree
to bar).
Os espaços nas gondolas
das grandes e pequenas redes de supermercado estão ocupados pelas grandes
indústrias e algumas das pequenas indústrias. É muito difícil conseguir
conquistar um lugar. Além disso há o problema de logística, somos um país muito
grande e quente, o que dificulta a distribuição de chocolate em razão do calor.
No caso dos bean to bar, a
dificuldade pode vir a ser minimizada, caso o conceito do bean to bar, que
acompanha o movimento de alimentação mais saudável, consiga manter esse ritmo
de crescimento conquistando cada vez mais consumidores e assim despertando o
interesse das redes, mas mesmo assim, vemos a busca pela colocação de produtos
nas redes como uma alternativa ruim, pela dificuldade de gerir a venda, a
logística, o acompanhamento nos pontos de venda para produtos com pouco volume
de venda (sob a ótica das redes).
Entendemos que para os
bean to bar, o caminho da colocação no mercado deve ser através de lojas
próprias ou redes de franquia, onde se consegue explicar o conceito por trás
daquela marca e produto.
Achamos que no tempo, com
o constante desenvolvimento do cacau fino, o gosto do cacau se aprimorará tanto
que estaremos degustando um chocolate 100%, observando as características de
cada varietal, dos blends produzidos, do impacto do terroir em cada uma dessas
variedades de cacau, Será?
texto de Mariah Abaurre publicado por
Juliana Ustra no blog chocolate no Brasil
em 18/09/2020
Créditos das fotos: Fabricio Sthel
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