CARTA ABERTA — Expedição Cacau e Chocolate do Brasil


CARTA ABERTA — Expedição Cacau e Chocolate do Brasil

publicada em 2025


Por Juliana Recuero Ustra
Engenheira química, pesquisadora, consultora e idealizadora da Expedição Cacau e Chocolate do Brasil


Samba, milonga, axé, xaxado, forró, maracatu, carimbó, chamamé, vaneirão, xote... Ritmos não disputam território — coexistem, ecoam, completam nosso sentir sobre o Brasil. Escuto-os permanentemente ao percorrer aeroportos, fazendas, eventos, fábricas, feiras e muitos outros destinos da minha Expedição pelo país. Inclusive, criei uma trilha sonora da Expedição no Spotify (link ao final deste texto).


Vejo o Brasil também nas cores, nas festividades, nos sotaques, nas expressões artísticas, nos frutos e nos sabores de cada bioma que conheço — ou ainda sonho em conhecer. São esses elementos que me guiam como bússola por este território múltiplo, que sigo redescobrindo a cada etapa da Expedição Cacau e Chocolate do Brasil.


Escrevo esta carta para partilhar o que acredito com quem se dispõe a escutar com profundidade e claro, para convidar a acompanharem meu trabalho em diversos canais. 


As Conexões


Acolho com reverência palavras ditas em temperaturas e temperos diferentes dos meus — não apenas por respeito, mas porque me ensinam a compreender, com profundidade, o meu país. Se meu sotaque gaúcho me faz pertencer a um pedaço do Brasil, meu compromisso me faz pertencer ao Brasil por inteiro. Tenho sede de saber, fome de escutar, coragem para criar e humildade para compartilhar o que aprendo sobre nossas múltiplas brasilidades.


Quando alguém se senta para ouvir, temos algo a trocar. Quando alguém se levanta e parte, também. Até o silêncio ensina. Há beleza em cada gesto: no aproximar de uma cadeira à mesa, no olhar que se abre, no som espontâneo de surpresa ao provar algo novo. É por essas frestas que crio experiências que não apenas se sentem — transformam. Não prometo agradar. Prometo provocar, tocar, abrir caminhos. Se, ao final, alguém sair diferente, mais consciente ou simplesmente mais sorridente, então entreguei o que vim entregar.


O rumo


A Expedição Cacau e Chocolate do Brasil não é um passeio. Não é um roteiro turístico. Não é carrossel de fotos em redes sociais. É uma construção meticulosa de pontes — sensoriais, narrativas, produtivas. Nasce da escuta ativa, da observação rigorosa, da prática estratégica. É uma travessia que só pode ser feita por quem respeita os territórios.


Com mais de 25 anos de atuação em consultoria técnica, desenhei a Expedição a partir da inquietude de aprender — e com ela criei uma proposta autoral, com identidade e propósito. Sou gaúcha de Pelotas, com orgulho. E isso não me faz amar menos o Brasil. Pelo contrário: atravesso o país com escuta atenta, silêncio respeitoso e fala fundamentada. Não falo sobre o Brasil. Falo com o Brasil. É um diálogo com as pessoas que produzem, que vivem, que preservam, que me ensinam.


Tenho profundo respeito por todos os territórios onde chego. Aliás, não apenas chego — me conecto. Converso com quem tem história, escuto quem planta, reverencio quem veio antes. Reconheço o valor da escuta, do encontro e da troca.


A bagagem


Trago uma ferramenta importante, a prática consolidada do ensino: são mais de oito anos ministrando aulas para graduação e pós-graduação em uma instituição de ensino superior, dois anos como docente em uma escola técnica e em 27 anos de carreira, milhares de horas em treinamentos técnicos em empresas e equipes em todo o Brasil. Estudo profundamente o que desejo compartilhar. E compartilho com método, base e consciência de que ensinar é, antes de tudo, escutar. Ofereço caminhos que encontrei. Compartilho o que vi, li, estudei e senti.


Por dez anos, atuei como consultora de desenvolvimento de projetos pelo Sebrae RS. Foi ali que experimentei o sabor de reconhecer alimentos como patrimônio histórico, cultural e econômico de um território — e aprendi a tratar como protagonistas as pessoas que fazem essa roda girar. Essa vivência me ensinou que cada ingrediente carrega não apenas sabor, mas pertencimento, trabalho, resistência e inovação.


Os eventos da Expedição não são degustações. São encontros. Com o país, com os sentidos, com a complexidade do que é ser brasileiro. Não comercializo chocolate. Curadoria não é venda — é responsabilidade para orientar a escolha. Conecto produtos à cultura. Faço isso por meio de experiências que não estão nos manuais, mas no olhar que brilha, na memória que desperta, na emoção que surpreende.


A Expedição é ação viva, um projeto orgânico. É curadoria com alma. Visito regiões produtoras com um olhar técnico e sensível. Estudo famílias, modos de trabalhar, falar, viver, cultivar, transformar. Escuto histórias, observo rituais, provo narrativas. E compartilho tudo isso com rigor, emoção e responsabilidade.


Não sou influencer. Sou uma mulher brasileira que dedica décadas à pesquisa, à prática, ao estudo das cadeias produtivas. Organizei meu método de análise de elementos narrativos após uma longa jornada de imersão em estudar as premiações internacionais, entrevistas, estudos de marca, escuta de produtores, mapeamento de tendências e experiências reais em campo.


Falo com método. Trabalho com propósito. Sou técnica e sensível. Estratégica e sensorial. Não estou aqui para confirmar certezas — estou aqui para provocá-las e quem sabe, expandi-las. E sei que informação bem fundamentada, quando entregue com verdade, pode não agradar — mas pode impactar, transformar, quebrar paradigmas e mudar perspectivas.



As sensações


Falo, por exemplo, sobre o amargor — e não apenas o do chocolate. O chocolate, quando preparado com cacau fino cuidadosamente beneficiado, não é amargo. O amargor está no conjunto de defeitos sensoriais do cacau, estudado por pesquisadores que admiro. Mas há também o amargor da vida — e esse, sim, pode cegar. O que não cabe neste projeto é o azedume das relações ou ainda a indelicadeza travestida de opinião. E, quando isso ocorre, escolho não responder com a mesma acidez — outro defeito sensorial do cacau, quando em excesso. Escolho seguir. Prefiro continuar operando no lado luminoso das conexões.


Me realizo quando vejo olhos se fecharem ao provar um chocolate brasileiro e se abrirem, em seguida, com um sorriso genuíno. Quando ouço um som espontâneo de prazer. Quando alguém diz: “Eu não sabia que o Brasil tinha chocolates assim...”. É para esse público que falo. Para os que desejam descobrir — e não defender fronteiras. Para os que se movem e reconhecem a pluralidade do universo do cacau ao chocolate. 


Meu mapa do Brasil, aquele que uso nos materiais da Expedição, foi inspirado nas texturas e cores das cascas do cacau, fotografadas em dezenas de visitas minhas a fazendas. Ele carrega, em suas linhas, a complexidade de um país que não cabe em rótulos. Traduz a riqueza de movimentos, identidades e ligações invisíveis que formam a alma produtiva deste Brasil.


Admiro artistas e pensadores brasileiros que, como eu, transitam entre saberes e territórios com respeito, profundidade e beleza — como os que cantam o Brasil com alma ou escrevem com maestria. São referências que me inspiram a continuar contando, com dignidade, o que vejo florescer nos rincões do país.


Eis o que sustenta esta Expedição:

  • Vivenciar e estudar profundamente o que apresento

  • Respeitar, valorizar e aprender com quem faz o Brasil acontecer

  • Inspirar marcas, territórios e pessoas a enxergarem seu próprio valor

  • Traduzir o país em linguagem sensorial, estratégica e cultural

  • Conectar cadeias produtivas com propósito e excelência

  • Conduzir com base técnica simultânea à alma e sutilezas 

  • Impactar, provocar reflexão e quebra de paradigmas 


Porque o Brasil precisa se ver. Precisa se saborear. Precisa se respeitar. Porque o cacau e o chocolate brasileiros são mais do que commodities — são cultura, memória, identidade e potência.


Antes de finalizar esta carta aberta, meu agradecimento aos apoiadores, que de alguma forma estiveram comigo até o momento, seja com apoio financeiro, chocolates, compartilhamento de meu conteúdo, passagens áreas, hospedagem,  e claro com sua amizade. 


E sem dúvidas, agradecer a cada um que veio aos meus eventos e experiências com energia disponível e prontos para esta conexão com o universo do Cacau e do Chocolate do Brasil. Obrigada!


Sigo na minha caminhada, porque contar histórias com chocolate é também transformar a forma como as pessoas sentem, pensam e escolhem, e esta é minha escolha.  Desejo que a leitura desta carta convide você a amplificar este meu objetivo de fortalecer conexões e estar comigo neste diálogo. 


Esta é minha Expedição.



Juliana Recuero Ustra
Julho, 2025.


Para eventos, mentorias e parcerias: chocolate@ustra.com.br
Siga: @chocolatenobrasil
Ouça a playlist da Expedição no Spotify:  Playlist Expedição Cacau e Chocolate do Brasil


Translated Manifesto — Cacao and Chocolate Expedition of Brazil

Updated 2025

By Juliana Recuero Ustra
Chemical Engineer, researcher, consultant, and founder of the Cacao and Chocolate Expedition of Brazil

Samba, milonga, axé, xaxado, forró, maracatu, carimbó, chamamé, vaneirão, xote... Rhythms do not compete for space — they coexist, echo, and complete our understanding of Brazil. I hear them constantly as I travel through airports, farms, events, factories, fairs, and countless destinations throughout the country on my Expedition. I even created a playlist for the Expedition on Spotify (link at the end).

I see Brazil in its colors, festivals, accents, artistic expressions, fruits, and flavors of each biome I have encountered — and the ones I still dream of discovering. These elements guide me like a compass through this diverse territory that I continue to rediscover with each chapter of the Cacao and Chocolate Expedition of Brazil.

The Connections

I welcome words spoken in temperatures and flavors different from my own — not just out of respect, but because they help me truly understand my country. While my southern accent connects me to my roots, my commitment connects me to all of Brazil. I thirst for knowledge, crave to listen, have the courage to create, and the humility to share what I learn about our many forms of Brazilian identity.

When someone sits to listen, we share. When someone stands and leaves, we still exchange. Even silence teaches. There is beauty in each gesture: the pulling of a chair, an open gaze, the spontaneous sound of wonder upon tasting something new. It is through these openings that I create experiences meant not just to be felt, but to transform. I do not promise to please. I promise to provoke, to move, to open new paths. If someone leaves changed, more conscious, or simply smiling, then I have fulfilled my mission.

The Path

The Cacao and Chocolate Expedition of Brazil is not a tour. It is not a travel itinerary. It is not a carousel of curated social media posts. It is the meticulous construction of bridges — sensory, narrative, and productive. It is born of deep listening, rigorous observation, and strategic action. A journey that only happens when territories are respected.

With over 25 years in technical consultancy, I created the Expedition out of an urge to learn. It is an authorial project, built with identity and purpose. I am from Pelotas, in southern Brazil, proudly. But that does not lessen my love for the country as a whole. On the contrary: I cross it with attentive listening, respectful silence, and grounded speech. I don’t speak about Brazil. I speak with Brazil. I engage with the people who produce, live, preserve, and teach.

The Luggage

I carry the practice of teaching: over eight years of lecturing in higher education, two years in technical schools, and thousands of hours of technical training with businesses and teams across Brazil. I study deeply what I share. And I share with method, with knowledge, with the understanding that teaching begins with listening.

For 10 years, I worked as a consultant for project development with SEBRAE RS. There, I learned to recognize food as cultural, historical, and economic heritage — and more importantly, to place the people behind it at the center of the story. That taught me that each ingredient carries not only flavor, but belonging, labor, resistance, and innovation.

The events of the Expedition are not tastings. They are encounters — with Brazil, with the senses, with the complexity of what it means to be Brazilian. I do not sell chocolate. Curation is not commerce — it is responsibility. I connect products to culture. I do this through experiences that are not found in manuals, but in sparkles in the eye, reawakened memories, and genuine emotion.

The Expedition is alive. It is a living project. It is curation with soul. I visit producing regions with a technical and sensitive eye. I study families, ways of working, speaking, living, cultivating, transforming. I listen to stories, observe rituals, taste narratives. And I share all this with rigor, emotion, and care.

I am not an influencer. I am a Brazilian woman who has dedicated decades to research, practice, and studying Brazil's value chains. I developed my method of Narrative Elements after a long journey immersed in international awards, interviews, brand studies, listening to producers, mapping trends, and field research.

I work with method. I speak with purpose. I am technical and emotional. Strategic and sensory. I’m not here to confirm certainties — but to challenge and perhaps expand them. I know that well-grounded information, delivered with truth, may not always please — but it can move, transform, break paradigms, and shift perspectives.

The Feelings

I speak of bitterness — not only in chocolate. True chocolate, made with well-cared fine cacao, is not bitter. Bitterness is part of a set of sensory defects long studied by researchers I admire. But there is also the bitterness of life — that which blinds. What does not belong in this project is the sourness of relationships, or unkindness disguised as opinion. When it appears, I choose not to respond in the same tone — another defect, when excessive. I move forward. I choose to work from a place of light.

I find fulfillment when I see someone close their eyes while tasting Brazilian chocolate and then open them with a genuine smile. When I hear a sound of spontaneous delight. When someone says: “I didn’t know Brazil made chocolates like this...” That is who I speak to. Those who want to discover — not defend borders. Those who wish to be moved across this territory through cacao and chocolate.

The map of Brazil that I use in my materials was inspired by the texture and colors of cacao pods, photographed during dozens of farm visits. It carries, in its lines, the complexity of a country that cannot be labeled. It reveals the richness of movements, identities, and invisible ties that form the productive soul of this land.

I admire Brazilian artists and thinkers who, like me, navigate between knowledges and territories with respect, depth, and beauty — those who sing Brazil with soul or write it with elegance. They inspire me to keep telling, with dignity, the stories that bloom in the corners of this country.

What sustains this Expedition:

  • To live and study deeply what I present

  • To respect, value, and learn from those who make Brazil move

  • To inspire brands, places, and people to recognize their own worth

  • To translate the country through a sensory, strategic, and cultural lens

  • To connect value chains with purpose and excellence

  • To lead with strength — and with subtlety

  • To provoke, impact, and open new perspectives

Because Brazil needs to see itself. To taste itself. To respect itself. Because cacao and chocolate are more than commodities. They are culture, memory, identity, and power.

This is my commitment. This is my Expedition.

Juliana Recuero Ustra
Narratives of Deep Brazil
Founder of the Cacao and Chocolate Expedition of Brazil

For events, mentorships, and partnerships: chocolate@ustra.com.br
Follow: @chocolatenobrasil
Listen to the Expedition Playlist on Spotify

 





Comentários